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Oh Sweet Idleness

Era só quando se encontrava presa e sob o peso do seu corpo que se achava feliz. O tempo que medeava entre o tempo que partilhavam, era oco, vazio, seco, estéril. Voltava à vida sempre que de alguma forma se via inundada de um qualquer resquício dele. Por vezes bastava um olhar, mesmo que perdido, mesmo que sem sentido ou sentimento. Ao menos sentia-o ali, ainda que só fisicamente, ainda que só de corpo. Exacerbava cada gesto. Na sua mente, qualquer demonstração de afecto, por mais vulgar ou pouco exclusivo, se assemelhava a algo de que não conseguiria abdicar. Sentia-se invadida pelo vício de o querer, pelo vício de o amar incondicional e altruisticamente. Sabia não o possuir, mesmo quando lhe possuía o corpo. Sabia que inevitavelmente, um dia, lhe fugiria. Tinha um prazo de validade, um momento designado sine die mas cuja aproximação temia mais que a morte pois saberia morrer no dia em que se visse privada do seu toque, do seu aroma único, do seu beijo, do seu sexo. Via-se de fora, olhava-se em retrospectiva. Outros passaram pela sua vida, outros ousaram tocá-la. Mas nenhum chegou tão longe. Nenhum conseguiu manter-se nela de uma forma tão soberba, tão avarenta, tão egoísta. Nenhum conseguiu chegar às suas entranhas, conhecendo-a de dentro para fora e querendo-a apesar disso. Por isso a sua entrega era assim, desprovida de travões, desprovida de qualquer sombra de racionalidade. Entregava-se-lhe toda, oferecendo o corpo junto com a alma. Entregava-se-lhe sem medo, saboreando cada pequeno prazer, cada gigante orgasmo que o seu corpo lhe proporcionava, descansando no seu abraço e pedindo mentalmente que o tempo lhe concedesse o tempo para o ter sempre. Tonta, sempre tão tonta, sucumbia, querendo-o só mais um bocadinho, desejando-o só para si, alimentando ilusões que tinha como certezas. 

Inspirado em Mario Vargas Llosa, Travessuras da Menina Má.

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