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True Colours #30



Havia-se embrenhado em pensamentos soturnos, em demónios que lhe ocupavam os espaços vazios da mente, em monstros difíceis de escorraçar. Havia inutilizado a libido, deixando-a perder-se nos meandros da escuridão que lhe toldavam o gosto pela vida, que lhe bloqueavam o prazer por o sentir distante de si, distante da sua pele, inexistente no seu íntimo. Havia-se perdido no caos intrínseco da vida, das questões mesquinhas, dos obstáculos auto impostos numa espécie de inclinação para a dor. Porque a dor lhe parecia mais verdadeira, ao menos essa sentia-a. Bastou um instante, um instante em que sentiu o click, em que se viu ao espelho e pensou que afinal tinha tanto para dar, tanto para se oferecer. Deambulou pelo corpo, na pele clara e macia, nas curvas que sabia serem o seu melhor atributo, nos pontos que a aceleravam, imaginando e consubstanciando em si as mãos que sabiamente a costumavam saciar. Sorriu para o espelho e ele sorriu-lhe de volta como que dizendo "sempre estive aqui, bastava quereres". Sentiu a sensualidade tomar conta dos seus movimentos, era consigo que dançava, uma dança da qual sempre retirara os melhores frutos, uma dança que sabia de cor os passos, os ritmos, os sons. Mexeu-lhe, como que percorrendo um mapa, procurando um destino, viajando em céleres compassos, almejando o prazer, almejando o despejar da lama que lhe tolhia os passos e a mantinha presa, incapaz de se mover. Acariciou, massajou, estimulou. Sentiu o líquido começar a desenvolver-se dentro de si, a soltar-se das paredes, escorrendo suavemente e preparando-a para a entrada, para a penetraçao final, para o último capítulo, para o explodir que já não oferecia a mais ténue resistência. A partir dali, tudo se voltou a encaixar. O prazer de si mesma, o amar do seu corpo, o vício do prazer, do orgasmo, do desenfreado fruir da carne que era sua. (Re) encontrou-se.

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