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(E)m estado líquido #37

Amparamos a queda agarrando-nos ao que temos ao nosso alcance como que escorregando escorregadios da mão que nos costumava segurar na varanda do horizonte do sonho que sonhámos. Agarramo-nos por vezes ao mais singelo gesto, à mais pura das sensações. Só para nos sentirmos com chão, só para não termos a sensação de que dando um passo, caímos no abismo. Congeminamos, mentalmente, cenários onde nos sentimos nós próprios, cenários onde as feridas se saram com a facilidade de uma entrega. Deixamos que os pensamentos fluam e perdemo-nos neles, sacudidos pelo desejo, acordados pela libido que acaba por ser o mais certo em nós como indivíduos. E o nosso corpo manifesta as consequências das imagens em que nos embrenhamos, dos idílicos prazeres que queremos com a força de gigantes. Assim, sem refreio, sem receios. Sorrimos embevecidos, por vezes envergonhados. Envergonha-nos a facilidade com que deixamos o corpo tomar conta de nós, envergonha-nos a falta de controlo. Mas sorrimos face à certeza de que estamos vivos e de que, quanto mais não seja pelo prazer de nos sentirmos, queremos viver e permanecer em terra firme.

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