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State of the Mind (68)

É difícil distanciar-me do prazer para descrever o prazer. Mas tento sempre, acrescentando uma ou outra metáfora, comparando manifestações corporais de desejo com singelos cenários, lugares comuns, clichés muitas vezes usados até à exaustão. É difícil não sentir no bater entusiasmado das teclas, o perfume dos resquícios de momentos que me invadem e me destroem por dentro, dilacerando-me o peito e fazendo o coração pujante e latejante saltar para fora, libertando-se e gritando ao mundo que a paixão é o que me consome, que o desejo é o que me move, que a luxúria é o que me preenche. Sinto-o no momento em que o meu corpo se entrega à explosão do querer, às palpitações nervosas de uma entrega, ao dilúvio de fluídos que entrego e são depositados em mim numa prova absoluta de que o que se sentiu foi real. É difícil distanciar-me do desassossego que sinto, pele com pele, olhos nos olhos, carne com carne e simplesmente adormecer imbuída da satisfação do sexo, do comungar de vontades, do aproveitar do mais maravilhoso momento de partilha de que alguma vez seremos capazes. É difícil não sentir, à distância do tempo, a lembrança a ecoar-me no pensamento provocando um desalinho, um estremecer delicioso de memórias que se reflectem inesperadamente no corpo para tão só acordar a vontade e fazer-me querer mais, já agora, já aqui.

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