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(E)m estado líquido #35

Desde jovem que, explorando o próprio corpo, antevendo o que ouvia dizer não ser para a sua idade, descobriu que tocando-se de uma ou outra forma, conseguia fazê-los acontecer. Não identificou logo a sensação vivida com a palavra orgasmo, apenas gostava daqueles pequenos espasmos de prazer que procurava sempre que podia na clandestinidade do seu mundo. E gostava de aprimorar o que já considerava ser uma técnica infalível para os criar de dentro para fora do seu corpo. De apreciadora, cedo se tornou amante dos prazeres da carne. Descobriu que havia mais para além da solidão do trabalho desenvolvido pelas suas mãos e viu nos outros a possibilidade de exponenciar o que vivia entre as paredes do seu quarto. Costumava apelidar-se de coleccionadora de orgasmos. Coleccionava sabores, experiências, paixões. Guardava nos recantos da memória, cheiros, gestos, momentos, explosões. E, muitas vezes, a provocação da mente era tal, que dava por si eléctrica, insaciável. Escorria amiúde da vontade de ser consumida. Procurava saciar-se sempre que o ímpeto lhe surgia da volúpia das suas entranhas. Não se envergonhava. Ao invés, regozijava na certeza de se saber, de se conhecer. Coleccionava orgasmos como quem colecciona sorrisos, como quem procura a felicidade numa busca que sabia não cessar, apenas a envolvia na liquidez de querer mais e melhor. Porque de cada vez que se saciava, de cada vez que o espasmo se consumava, sentia que ainda não era ali que findaria.

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